Objetivo

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

...Eu queria escrever uma história...

"A voz de alguém quando vem do coração
De quem mantém toda a pureza
Da natureza
Onde não há pecado nem perdão"
(Alguém Cantando - Caetano Veloso"

Há alguns erros que cometemos que não podem ser corrigidos, pois o passado não pode ser apagado e, muitas vezes, sequer pode ser revisado para possíveis acertos.
Eu queria escrever uma história, e ela já tinha até protagonista: uma jovem medrosa e complexada, que nunca foi capaz de enxergar uma qualidade sua sequer, deixando que sua ausência de auto-estima destruísse toda sua percepção de si mesma, fazendo com que se sentisse a pessoa mais insignificante do mundo e lutando todos os dias de sua vida pelo amor e pela aprovação das pessoas a seu redor. Minha personagem seria a filha mais nova de uma família composta de pai, mãe e três filhos, que perdeu seu "posto" de caçula para a sobrinha, filha de seu irmão. Esta família seria espetacular, apesar de sua falta de comunicação com o pai e de seus constantes choques com a mãe que, apesar de ela amar muito, as duas simplesmente não conseguiam se entender.
Minha menina estaria fora dos padrões magérrimos e vaidosos de beleza, e escutaria tanto isso de sua mãe que criaria um terrível complexo com sua imagem, não se aceitando. Além disso, ela seria impulsiva, sincera ao extremo, carente, espontânea embora tímida, compulsiva, teimosa, rebelde, independente, sonhadora, meio depressiva, dramática, questionadora, incapaz de se enxergar no espelho, com um tremendo medo da vida e de seus imprevistos, e com um objetivo de vida pequeno e simples: encontrar o grande amor de sua vida.
O desenrolar desta história seria a sua busca por esse grande amor, os erros cometidos durante esta caminhada e todo o tempo perdido e as lágrimas derramadas para, então, descobrir que o segredo da felicidade não é encontrar um grande amor, mas se encontrar e se apaixonar por si, para só depois encontrar alguém que complete sua vida, e não seja o tudo, o motivo de sua felicidade, para só então se apaixonar e este sentimento encher o seu coração de alegria, e não de dor, sofrimento e insegurança como estava o dela.
Minha protagonista amaria muito, como jamais foi capaz de amar antes, um homem muito especial, porém, muito complicado, que não sabia direito o que queria da vida, e não conseguia compreender o amor incondicional que ela sentia por ele.
Ao lado deste homem, ela viveria os momentos mais felizes de sua vida, mas também as maiores decepções, sempre tentando mostrar-lhe que só queria o seu bem e que o seu principal objetivo era fazê-lo feliz.
O problema é que o final desta história eu não saberia escrever, pois nem mesmo eu, a autora, sei o que vai acontecer...
Eu queria escrever esta história, mas acabei mudando de idéia, pois seria uma autobiografia e eu não sei se eu ficaria bem no papel de mocinha, pois na novela da vida não há mocinhos e vilões bem definidos. Na verdade, todos querem ser mocinhos, mas no decorrer dos fatos e de acordo com as pessoas que conhecemos e convivemos, somos um misto de bem e mal em uma só personalidade.
Eu queria escrever esta história, mas fiquei com medo de o final fictício ser diferente do desfecho real e eu ficar frustrada pelas coisas não terem acontecido da forma que eu almejei.
Eu queria escrever esta história, mas o medo me impede e o desespero me cega. Eu queria escrever o final da minha história, mas, infelizmente, eu ainda não descobri como se faz isso, pois só é capaz de escrever a sua própria história aquele que encontra a felicidade interior, o que não é o meu caso. E aqueles que não escrevem sua própria história, ficam à revelia do destino, ele é o autor da novela da nossa vida.
Eu ainda tenho tocado a mesma música todos os dias, sem perceber que meu público, entediado, já deixou o teatro. E eu me encontro só neste momento...

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